Então, você resolveu que vai “trabalhar com computador”.
Seus pais ou seus amigos e outros parentes fizeram uma lavagem cerebral em você? Ou você decidiu sozinho entrar nessa?
Os motivos não importam, você quer entrar em TI e precisa começar (e rápido). Várias coisas passam em sua cabeça, fazer um curso de informática, fazer um curso técnico ou até mesmo uma faculdade.
Deixe me tentar passar um pouco do que aconteceu comigo para ilustrar o que é um início em TI.
Quando eu comecei a pensar em trabalhar com tecnologia, eu já tinha um histórico pessoal puxando para este caminho (além de um mau fadado teste vocacional lá na época do colégio).
Mas eu tinha alguns problemas, eu não tinha dinheiro algum, nem emprego, ou qualquer curso na área e ainda não tinha internet, mas eu tive a sorte de fazer um colégio muito bom que ensinou a me virar na vida e eu jogava RPG com meus amigos usando somente livros importados, o que fortaleceu muito meu inglês, eu jogava videogames totalmente em inglês, programava na minha calculadora, era muito curioso e adorava estudar… ou seja, eu tinha a massa crítica necessária para explodir em um imenso Nerd pulsar…
Eu só tinha acesso (limitado) à algumas BBS via modem “14400” em contas emprestadas de amigos, usava DOS, linha de comando e programas de terminal ASCII, além de apanhar demais dos conflitos que meu emulador de memória causava entre os drivers do meu modem, a placa de som e uma NE2000 que eu insistia em manter na minha máquina mesmo sem ter uma rede para ligar. (se você não entendeu este último parágrafo tudo bem, você está começando…)
Era muito difícil, resolver os problemas da minha máquina consumiam horas da minha vida sem que eu percebesse e eu estava maravilhado.
Neste tempo, baixei muitos textos (txt mesmo, nada de rtf) sobre funcionamento dos computadores, configurações de modem para melhorar a transmissão, configurações de buffer, alocar mais memória para o terminal ASCII, enfim, um universo de informação só no pequeno âmbito de modem/BBS que eu estava acessando.
Encurtando a história, eu aprendi que a área de Tecnologia muda muito rápido, em 1995 as BBS praticamente desapareceram com o surgimento da internet, decidi então largar minha ainda nova profissão de designer digital em uma agência de propaganda e trabalhar num provedor de acesso (à época) porque eu precisava estar com a mão na massa, estar presente no início do “boom” da internet no Brasil e ao mesmo tempo precisava trabalhar e me sustentar. Não foi fácil entrar sem experiência alguma ou formação, só consegui pois um grande amigo, fez uma indicação para a empresa (Networking).
Entrei ganhando um salário mínimo, resolvia os problemas de conexão dos usuários (já em windows!) por telefone e a empresa nem se quer me disponibilizava um computador, masterizei a arte de imaginar o que os outros faziam em seus desktops, eu praticamente “psicografava” o que eles faziam. Meu único recurso era um manual de 200 páginas com print-screens de configurações que serviam para nada, porque os programas de discagem e configurações já mudaram a tempos, eu li e entendi o funcionamento como um “big picture”.
E eu tive que aprender tudo sozinho…
Porque nem meus chefes ou meus co-workers ensinavam o que tinha que fazer, tampouco sabiam… Aos poucos, comecei a atender “casos” perdidos que ninguém resolvia, com Windows NT (3.5), Macintosh e clientes que só falavam inglês.
Em pouco mais de seis meses fui convidado por um cliente que eu atendia em inglês a trabalhar com um sistema que precisava ser instalado no próprio provedor, pedi demissão e aceitei o novo trabalho ganhando seis vezes mais.
Percebe o que quero dizer?
Se você não for um bom autodidata, esta profissão não é para você e ponto, não tem discussão. Um curso de informática não é nada se você não tiver a chama do aprendizado queimando com muita fúria, porque a quantidade de informação é enorme e o tempo é muito curto. No longo prazo você verá que esta mesma chama é ao mesmo tempo sua maior aliada e seu maior inimigo. – E isto vale para qualquer profissão EMHO.
O único limitante na carreira de TI é você mesmo, se você quer começar hoje, primeiro olhe para trás e veja em sua vida os motivos que te fizeram olhar para esta carreira. Pois anos depois você mesmo questionará sua decisão, como eu mesmo fiz diversas vezes. A quantidade de estudos é nada menos que opressiva e você terá pouco tempo para se atualizar. Se você trabalha na área e discorda desta parte de estudos é porque muito provavelmente você é um “savant” ou é muito ruim, o último é 100% de chance.
A área de TI é muito grande e mutante, os ramos que você pode atuar passam por: Desenvolvimento, Arquitetura de computadores, Redes, Storage, Sistemas Operacionais, Bancos de dados, Virtualização, Pesquisa Tecnológica e muitos muitos outros. Na minha opinião, não existe uma faculdade ou curso que te encaminhe a ser um profissional de TI e sinceramente, você precisa se perguntar se tem este tempo para gastar (com educação formal). Eu costumo dizer: “Se você estiver aprendendo com a faculdade, cuidado!”
Hoje com a internet, você tem acesso irrestrito a muito material bom (e muito lixo também), aproveite.
Mas acho que a maior dica que eu posso te dar é:
Aprenda inglês.
Seu windows está em português? Errado!
Troque tudo por inglês, a interface do seu smartphone tem que estar em inglês, passe a ler as notícias somente em inglês, veja os filmes sem legenda, coma e respire em inglês, 90% da informação na internet está em inglês, e as pessoas de outros países, que obviamente não falam português com certeza tentarão se comunicar em inglês. Além do fato (bem lembrado por um amigo) de que todas as linguagens de programação relevantes se não estão em ou são baseadas no inglês. Some-se a isto o fato de que uma tradução nunca é fiel, você ter acesso a versão original é muito importante em uma documentação ou comentários em código fonte open source.
A segunda dica que posso te dar é:
Sabe aqueles amigos que só falam de futebol, pron e cerveja?
Esqueça!
Crie um círculo de pessoas da área de TI, pessoas que realmente se empenham com tecnologia, que possam contribuir com sua evolução pessoal e influenciar positivamente. Tenha amigos pé no chão e outros com ideias bem radicais, desenvolva seu lado de fazer amizades e mantenha todos próximos, participe do que eles fazem, tente, seja engajado em alguma causa, desenvolva seu “Networking”, navegue nas oportunidades que com certeza aparecerão, construa sua carreira de forma que você se especialize em algo e que seja natural para você, mas nunca deixe de ser você mesmo.
Novamente, se você é “veterano” acha que é um excelente profissional de TI e ama futebol, pron e cerveja lembre do que falei sobre a chance de você ser um “savant”…
Obviamente eu não sei tudo, nem sou dono da verdade, esta é apenas a opinião que formei após anos na área. E sim eu sou um cara com ideias radicais, como diz Jean Baudrillard: “É melhor perecer pelos extremos, do que pelas extremidades”.